segunda-feira, 9 de junho de 2008

CANTORIA DA VOVÓ

BY DOCARMO

Toda história que propicia enlevo à quem a lê, começa com o insubstituível e emocionante – ERA UMA VEZ!....
Então, para não fugir à regra, esta doce história, começará também com o mágico - " ERA UMA VEZ !" - embora seja uma narrativa verídica e contemporânea.
Era uma vez, uma alegre, feliz e simpática senhora, que vivia sozinha em seu apartamento, pois seus dois únicos filhos: uma bela, meiga e inteligente moça e um não menos bonito e inteligente rapaz, que no momento de nossa narrativa, já haviam terminado os estudos acadêmicos, exerciam as profissões de formação e ambos já estavam casados, e para felicidade da gentil senhora, também amava muito seu genro e sua nora, seus filhos de sogra, como os batizara.
Mas, devido a distância, pois moravam cada qual em sua própria casa, ela sentia-se triste e muito saudosa. Como todo coração materno é sempre muito amoroso e contraditório, o desta mãe - sogra, não é diferente, uma vez que vibra com a felicidade e realização de seus amores e sofre com a ausência cotidiana deles.
E a vida continua sua trajetória inexorável. Feliz sim, porém, absolutamente conformada e saudosa.
Por motivos alheios ao conhecimento humano e por situações adversas existenciais, seu filho caçula, viu-se obrigado a desfazer-se de sua casa e mudar-se para a de sua mãe, que morando só, estava em condições de acomodá-lo fisicamente, pois conhecendo-a tão bem como a conhecia, sabia que ela não titubearia, sequer uma fração de segundo, em abrir mão de seu espaço para abrigá-lo com todos os seus pertences, que compunham sua moradia.
Seu coração de mãe, extremamente amoroso, recebeu com total afeto sua nora e transbordando de amor e carinho sua primeira neta, que na ocasião era a única, pois com o passar dos anos mais dois imensos e estupendos amores chegaram.
Mesmo sendo funesto o motivo da mudança, ela sentia-se absurdamente feliz, pois ela passou a ter convivência diária com a pequenina menina e pode compartilhar do desenvolvimento e crescimento dessa vidinha.
Era esse novo, inesperado e inusitado processo de vida, que lhe proporcionava uma sensação de juventude e imensa alegria.
A pequerrucha, que contava com um ano e alguns meses de vida, mal falava e caminhava com muita dificuldade, porém, avó e neta, entendiam-se muitíssimo bem em brincadeiras, estavam sempre cantando e dançando. A Vovó era perita em criar histórias que nunca eram repetidas em sua íntegra, pois sendo longas demais, ela própria não lembrava como havia começado e qual era o enredo inicial da história e muito séria, em tom confidencial, quando era solicitada a repetição, dizia-lhe que a história tinha ido dormir no baú da Fada Madrinha e que somente quando ela desejasse, ela a despertaria para ser contada novamente. Como o repertório era vasto, a menininha aceitava as justificativas e a Vovó sorria aliviada e já iniciava outra história com toda a dramaturgia que a ocasião necessitava: vozes cavernosas, sinistras; passos cambaleantes e assustados, pé ante pé, muito mistério, gestos bruscos, enfim, encenação digna de uma grande Diva, contemplada com o magnífico "Prêmio Molière".
A netinha durante a narrativa ficava completamente extasiada: batia palmas, gritava de medo forçado, apertava os olhinhos, como querendo não ver cena tão apavorante, olhando entre dedos para a interpretação magistral de sua Vovó.
Realmente, o amor faz milagres, uma vez que essa senhora, embora sentindo-se muito jovial, estava chegando de um dia árduo de trabalho, enfrentando toda sorte de barreiras inerentes à vida de uma executiva de sucesso, com cinqüenta anos.
Nada a detinha diante de um pedido de sua Tulipa, como carinhosamente ela tratava sua pequena. Justificava, que sendo a flor de delicada cultura em nosso país tropical, não havia comparação melhor e mais adequada que Tulipa, para designar essa flor, delicada e meiga, em pleno desabrochar da vida; ela era muito especial ao seu coração, por isso ela a tratava por Tulipa, a flor.
Agora, nesse período de estadia de seu filho morando com a família em sua casa, quem entrasse no apartamento da Vovó, não mais o reconhecia, mesmo ele continuando a irradiando harmonia, felicidade, amor e ordem, como sempre, em suas dependências sentia-se um algo mais, um não sei que de enlevo, que era logo desvendado pelo riso alegre e sonoro da menina, ou por sua meiga vozinha chamando pela avó:
- Vovó, vamos fazer nossa aula de cantoria?
Agora a garotita já sabe conversar, seu andar é firme, pede para ir ao banheiro fazer xixi, toma as refeições, come biscoitos e bebe água sozinha, enfim, está com dois anos de idade e já freqüenta uma Escola Maternal, que fica a alguns metros do apartamento da Vovó. Como todos na casa: Vovó, Papai e Mamãe, trabalham fora o dia inteiro, era a Mamãe da bela Tulipa, quem a levava à escolinha, pela manhã, antes de ir para o trabalho. A pequena ficava em jornada integral.
Era sua Vovó a primeira que chegava em casa depois do trabalho, o que coincidia com o horário do término das aulinhas, então ela passava pela Escola e trazia sua florzinha para casa.
Que felicidade!
Depois dos beijos e abraços saudosos, à caminho de casa, Tulipa contava todas as peripécias de seu dia alegre e surpreendente, pois era um sem fim de novidades que lhe eram apresentadas, e ela ávida por saber, mesmo em tão tenra idade, entusiasmada contava tudo para a Vovó, que muitas vezes mal ouvia ou entendia o que ela falava, pois, todo seu ser estava elevado para junto de seu Deus maravilhoso, que mesmo nas agruras da vida, sabiamente se faz presente com seu desmedido amor.
Os imensos amores de sua vida estavam muito junto dela : a meiga Tulipa e o recém chegado campeão – neto dado por sua amada filha.
Vovó sentia-se plenamente realizada. Exorbitou, alguns anos depois, quando chegou mais um herói, presente de seu filho.
Sua pimpolha, linda e inteligente, já é quase uma donzela, de corpinho esguio, cabelos levemente ondulados e castanhos, que com delicadeza são presos por presilhas decoradas de pequeninas flores, ou com os mais variados e delicados motivos infantis; esta deusazinha está com três anos de idade.
Tagarela, alegre e extrovertida, adora dançar e cantar.
Vovó, com sua criatividade peculiar, busca em sua memória , músicas de carnavais de sua infância.
Recorda-se de seu pai tocando bandolim, e volta ao passado repetindo a cena, agora sendo a condutora do espetáculo.
Num festival de desafinação, entoam cantigas da época de sua infância, sendo as prediletas: Chiquita Bacana, Jardineira, Pierrô Apaixonado, Mamãe Eu Quero, Lata d’água, Tem Nego Bebo Aí, Saca Rolha, Me Dá Um Dinheiro, e tantas outras, não carnavalescas, como : Sabiá na Gaiola (suponho seja esse o nome correto da canção), Cantigas de Roda e de Festas Junina, sempre tudo muito exuberante e alegre, propiciando mímicas hilárias.
Tudo era motivo para as barulhentas cantorias. Foi o que aconteceu em um dos natais daquele período áureo da vida da Vovó, quando seu segundo neto, o primeiro campeão a chegar, depois da Tulipa, ganhou de Papai Noel, um carro vermelho de pedalar. Havia uma música de sucesso, na década de sessenta, que contava as aventuras de um galante rapaz e seu carrão vermelho; essa música ficou sendo a predileta da desafinada, hilária e dramática dupla.
Vendo as duas cantarem e dançarem, era difícil distinguir avó da neta, uma vez que a Vovó era papel carbono da pequena Tulipa em disposição, alegria e requebros. Em situação normal, jamais se veria a Vovó com expressão tão feliz.
E em clima de louca alegria, Vovó e Tulipa, rodopiavam pela sala cantando e gesticulando de acordo com a letra que era cantada, seguindo a letra meio original, meio inventada, ao sabor das traições da memória da Vovó.
E assim passavam horas e horas, rindo muito, divertindo-se a não mais poder.
Vendo aquela senhora com o cabelo em desalinho, ofegante, faces rubras de tanto cantar e dançar, não imaginaria que há algumas hora atrás, desempenhava seu sério papel de executiva.
Como era bom sentir-se cansada de tanto dançar. Que conotação diferente e alegre tinha o cansaço de agora
Até chegar na escolinha para pegar a Tulipa, Vovó sentia-se exausta, querendo uma poltrona fofinha e um ambiente silencioso. Esticar suas pernas em um banquinho, calçar um confortável chinelo velho, fechar os olhos e não pensar em nada. Mas ao aproximar-se do instante de abraçar sua pimpolha, uma onda de vida, proveniente de seu amor imenso pela menina, transformava-a em criança também, ávida de brincadeiras, risos, danças, cantorias e tudo o mais que é permitido às crianças plenamente felizes.
Essa era a imagem da Vovó.
Cansaço, que sensação é essa? No vocabulário da Vovó essa palavra não existia. Criança sadia, raramente se cansa, dizia. Vovó realmente estava com cinco anos.
Segue a marcha implacável de tempo, sem observar o que seu andar causa.
Como: "Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe", Vovó pode comprovar essa veracidade, após cinco anos de total ventura.
Para felicidade e realização profissional do Papai da amada Tulipa, ele foi convidado para gerenciar uma Divisão de Engenharia Mecânica, em conceituada Empresa Multinacional, alocada em uma de nossas grandes cidades - "Metrópole Industrial Interiorana".
Novamente, o coração da nossa alegre Vovó, vê-se em dilema existencial.
De um lado, está o crescimento profissional do filho querido, decorrente dessa mudança radical de trabalho; de outro, a dolorosa e insuportável separação física de sua meiga Tulipa.
Contradição absurdamente irracional: pois havia muito de felicidade nessa oportunidade de seu filho poder resgatar a situação de vida anterior à vinda para a sua casa. Mas como doía pensar que agora haveria uma distância de algumas horas de viagem para poder apertar sua florzinha, beijá-la, ouvi-la dizer:
–Vovó vamos fazer nossa aula de cantoria?
Mas, mesmo com toda essa dor, Vovó agradecia muito à Deus por ter concedido essa grande graça de volver seu Olhar Divino para seu filho amado, embora ela fosse pagar um preço altamente doloroso: a separação de sua florzinha e agora também de seu irmãozinho, outro pedaço de seu coração, ela agradecia.
Como seu coração é totalmente abnegação, entre sua felicidade e a de alguém de sua família, mil vezes mil sua dorida saudade.
Hoje, já faz onze longos anos que sua adorada Tulipa mora longe. Felizmente existe telefone, o que as aproxima um pouco mais; sempre que possível, Vovó radiante de alegria, arruma sua bagagem de viagem e mal pode esperar por seu filho que a vem buscar para uma pequena temporada de felizes dias em sua casa. Ele nunca vem só, geralmente sua Tulipa e o irmão o acompanham.
Vovó é feliz, pois tem uma família realizada em todos os pontos de vista: dois filhos formados, bem casados, três netos maravilhosos, inteligentes, adolescentes e estudantes exemplares, tem um relacionamento de harmoniosa amizade com seu genro e sua nora, diverte-se com o que mais gosta de fazer – dedica-se à literatura, cursando Oficinas Literárias em todas as Bibliotecas da vizinhança de seu apartamento.
Se formos hoje procurar a Vovó, certamente iremos encontrá-la, às voltas, com a árdua e agradável tarefa de registrar suas memórias, para deixar a sua descendência, com intervalos de algumas horas em trabalhos divididos entre a cozinha, seu ponto forte, e tricôs intermináveis, sem comentar as longas conversas com as amigas ao telefone, onde combinam passeios à exposições, saraus e palestras voltadas para a Maturidade, tão em destaque atualmente.
É assim que nossa Vovó pretende chegar aos noventa e muitos anos de idade.
Feliz e plenamente realizada ao lados de seus amores e comemorando as vitórias de seus BISNETOS; também.

6 comentários:

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